Ontem, dia 31/03, meu amado avô Yoshiharu Terasaka faleceu.
Foi um dia muito, mas muito triste pra mim. Acho que pela idade avançada e pelo meu melhor entendimento nessa questão da morte, doeu mais agora do que quando perdi a minha mãe. Naquela época, com 11 anos, eu não entendia muito bem o que estava acontecendo, e até hoje não me explicaram direito o que aconteceu. E hoje eu entendi perfeitamente o que tinha acontecido, mas não quer dizer que seja mais fácil de encarar…pelo contrário.
Mais do que um avô (título que por si só já merecia um carinho e um respeito enorme), ele era um verdadeiro pai pra mim. Ele me ensinou a ser muitas coisas, das quais me orgulho por ter aprendido com o melhor. Me ensinou a ser uma pessoa correta, justa, amorosa, alto astral, humilde, paciente, agradável…e o mais importante: ele sempre me disse pra ser feliz! Sempre me apoiava pra fazer o que gostava, e se não estivesse gostando, era pra parar porque tinha algo errado!! Ele sempre me apoiou em tudo o que eu fazia, desde que fosse legal e não prejudicasse a ninguém. Ele era meu fã nº1 nas fotografias, nos desenhos, no teatro. Ele me ensinou que o importante era ser feliz, assim como ele era!
E eu fui muito feliz ao lado dele. Mais até do que poderia ter sido se tivesse conhecido o meu pai biológico, me arrisco a dizer. Até porque, avô é pai duas vezes, e avô que é pai? Perdi a conta…Sei que minha admiração por ele será eterna, e sinto um orgulho imenso por ser neta dele, e por ter tido a chance de conviver com essa pessoa tão linda…
Quantas vezes me diverti com histórias dos tempos da juventude dele, da juventude dos meus tios e mãe, com as histórias da viagem do Japão pra cá, com histórias inéditas, repetidas, engraçadas, sábias. Ele adorava contar histórias! Meu avô era muito sábio, mesmo sem ter tido muito estudo. Ele aprendeu tudo na prática, vivenciando, conversando, fazendo amizades…E como tinha amigos! O telefone não parou de tocar ontem e hoje…Todos ficaram muito tristes com a notícia de que o “seu Terasaka” não está mais aqui. Isso sem pensar nos amigos que ele fez por aí, e não ficarão sabendo tão cedo que ele não está mais aqui. Se soubessem, tenho certeza de que ficariam tristes também.
A minha avó está inconformada, tadinha. Não sai do lado dele por nada, botou um banquinho ali e está segurando a mão dele, fazendo carinho no rosto, chorando, conversando…Já consegui fazer ela comer um pouco e beber água, mas até os outros parentes chegarem, ela não vai sair do lado dele. Esta, aliás, é uma imagem muito forte nas minhas lembranças mais antigas, meus avós sempre juntos. Eles brigavam, como todo casal, mas mesmo sendo (bem) diferentes, eram unidos. Estavam sempre conversando, algumas vezes até em japonês (!), e eu me divertia ouvindo…Até quando ela dava bronca nele quando ele demorava pra chegar do mercado, e ele dizia “não tem pressa, ué…estava conversando com um amigo novo!”. Hehehe!
Ele adorava fazer amizades, compartilhar experiências, dar risada, lembrar das coisas felizes e tristes da vida dele, com muito carinho…Ele sofreu bastante quando chegou ao Brasil, mas mesmo assim contava com orgulho, porque se não tivesse sofrido, não teria se tornado o homem que ele era. E ele era grande. Não no tamanho (ele era menor que eu), mas na grandeza dos gestos, da alma, do coração. Afinal, é isso que realmente importa, né? Ele vai deixar saudades por ter sido demais…
Uma coisa que ele adorava era mexer na terra, plantar, colher. Desde jovem, fazia isso nas fazendas onde trabalhou, e aqui no quintal de casa eu perdi a conta de quantas coisas plantadas por ele nascem e crescem todos os dias. Outra coisa que ele gostava muito era a música. Ele tocava vários instrumentos, inclusive uma gaita que ele conservava até hoje e até um tempo atrás, ele ainda tocava as músicas alegres que ele adorava. Gostava muito dos animais também…Seu último companheiro foi o Bingo, um cachorro que não desgrudava dele quando ele saía lá fora. A gente brincava dizendo que ele era o “carrapato do ojiitian” (avô em japonês, e como nós o chamávamos), e ele se divertia com isso. Ano passado, o Bingo morreu…mas agora ele vai se reencontrar com ele, com a minha mãe, com os parentes do Japão…e vai continuar a ser feliz lá no céu. Tenho certeza disso! A estrela dele vai ser aquela que mais brilhar. E sempre que eu olhar pra ela, vou sorrir e ter certeza de que ele está ali me observando e cuidando de mim com todo o carinho do mundo, como sempre fez. Agora ainda sinto a dor do luto, mas quando a dor passar, só vão ficar os bons momentos, a saudade e o amor. Muito amor…Pra sempre. Para o melhor avô do mundo, todo o meu amor. Vai em paz, vou sentir sua falta a cada dia que eu viver! Mas não se preocupe, vou sempre fazer você sentir orgulho de mim!! TE AMO. ♥ Sua neta, Thiezinha. (vou sempre me lembrar dele me chamando assim…pra quem não sabe, Thie é meu nome do meio)